O artigo compara a vitalidade da produção cinematográfica no Rio de Janeiro em oposição a São Paulo, argumentando que, enquanto no Rio de Janeiro se produz uma quantidade considerável de filmes, sendo este estado "líder inconteste da produção nacional", em São Paulo, a despeito da concentração do "grosso dos recursos econômicos e financeiros" do Brasil, pouco se faz. Vladimir Herzog atribui isso, inicialmente, aos perfis comportamentais dos habitantes das duas localidades: enquanto em São Paulo se reflete, planeja e calcula muito, mas pouco se realiza, no Rio as ideias são logo postas em prática, mesmo sem a existência de todas as condições desejáveis. Para Herzog, isso joga por terra a "alegação" de que só se faz cinema com dinheiro, pessoal técnico e material apropriado: a diferença abissal entre a produção carioca e a paulista desmente a hipótese e o Rio prova que "é preciso ter primeiro coragem, audácia". O texto faz ainda uma reconstituição histórica do panorama do cinema nacional, apontando um período de estagnação recente ligado a "condições político-econômicas" que não estimularam a produção cinematográfica. Vladimir Herzog culpa os próprios cineastas por uma atitude de conformismo perante a situação, sobretudo devido a uma legislação obsoleta que privilegiava o filme estrangeiro em detrimento do nacional. Elogia ainda a emergência do cinema baiano, que trouxe "uma nova concepção de realização, principalmente no plano econômico e técnico", até que surgiu o Cinema Novo a dar o impulso ao cinema carioca. Ao final, o artigo adverte os cineastas que estão produzindo a terem em mente o público brasileiro, uma multidão em que "mais da metade é constituída de analfabetos". Atingir devidamente essa massa é, segundo Herzog, "uma responsabilidade tremenda", senão "a única" responsabilidade de relevância.