A matéria inicia descrevendo o dia em que o autor assistiu ao documentário Tire dié, de Fernando Birri, em Buenos Aires, no começo de 1962. Faz uma brevíssima caracterização de Birri, chamando atenção para o foco de atuação desse cineasta: o cinema social. Relata a surpresa e o impacto da exibição do filme, sobretudo porque a Argentina não tinha tradição de fazer cinema de alto nível. O documentário se apresentava como a primeira "obra de arte cinematográfica produzida na América do Sul" que era realmente sul-americana, por tematizar o homem do povo habitante desse subcontinente. O artigo defende que esse novo tipo de documentário supera o modelo tradicional vigente, o do "registro do insólito", de "turismos mais ou menos virtuosísticos" ou "de abordagens intelectualizadas, frias, personalizadas". Assinala a clareza e o didatismo de Tire dié, calcada numa "estrutura dialética entre as imagens e entre estas e a faixa sonora", e o modo como o fato particular transcende as fronteiras locais. O texto explica a matéria abordada no filme e o modo como o retrato dessa comunidade e da prática da esmola ultrapassa a mera denúncia, apontando para o problema mais geral da maneira como toda a sociedade se estrutura economicamente. Sublinha-se ainda outro pioneirismo do filme, o fato de ser uma obra coletiva gerada dentro de um curso universitário no Instituto de Cinematografia da Universidade del Litoral em Santa Fé. O propósito desse grupo é colocar o cinema a serviço da educação popular, focalizando grandes problemas sociais para ser útil à coletividade. Como remate, Vladimir Herzog ironiza aqueles que torcem o nariz para a ideia de arte feita para o povo e defende um cinema que dialogue com um público o mais amplo possível.
Matéria jornalística
AVHMAT0050
Birri de Santa Fé
O Estado de S. Paulo
16 mar. 1963
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