Vigora entre familiares e amigos de Vladimir Herzog a opinião de que o cinema era, senão a sua verdadeira vocação, pelo menos a atividade que lhe despertava maior interesse e satisfação pessoal. Não faltam nos depoimentos daqueles que com ele conviveram menções a idas quase diárias a exibições de filmes, nem elogios ao seu conhecimento da sétima arte, que era profundo. Existiu uma linha-guia, portanto, que levou o estudante de segundo grau que, por um momento, arriscara uma passagem pelo teatro, e, pouco depois, optaria por estudar Filosofia e se deixaria fisgar pelo trabalho jornalístico, a ser inapelavelmente cooptado pelo universo cinematográfico. O primeiro passo consequente desse itinerário talvez tenha sido a aproximação com a Cinemateca Brasileira....
Vigora entre familiares e amigos de Vladimir Herzog a opinião de que o cinema era, senão a sua verdadeira vocação, pelo menos a atividade que lhe despertava maior interesse e satisfação pessoal. Não faltam nos depoimentos daqueles que com ele conviveram menções a idas quase diárias a exibições de filmes, nem elogios ao seu conhecimento da sétima arte, que era profundo. Existiu uma linha-guia, portanto, que levou o estudante de segundo grau que, por um momento, arriscara uma passagem pelo teatro, e, pouco depois, optaria por estudar Filosofia e se deixaria fisgar pelo trabalho jornalístico, a ser inapelavelmente cooptado pelo universo cinematográfico. O primeiro passo consequente desse itinerário talvez tenha sido a aproximação com a Cinemateca Brasileira.
Não se sabe exatamente como Vlado aportou na Cinemateca Brasileira. Os demais frequentadores desse espaço que puderam testemunhar a presença dele só foram capazes de informar que, de repente, lá estava ele, como se sempre tivesse feito parte desse lugar. Infelizmente, não dispomos das versões de alguns dos principais personagens da Cinemateca à época, como Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), Rudá de Andrade (1930-2009) e Gustavo Dahl (1938-2011), sobre essa questão específica. Vladimir Herzog, enfim, entre o final da década de 1950 e o início da seguinte, transforma-se em colaborador ativo da Cinemateca (e da Sociedade de Amigos da Cinemateca), e, junto com outros nomes fundamentais para o cinema brasileiro – Jean-Claude e Lucila Bernardet, Maurice Capovilla etc. –, será um dos artífices dos projetos de divulgação (mostras, lançamentos de filmes, apoio a cineclubes) desse centro de cinematografia.
Será provavelmente pelo reconhecimento dessa frequentação e do saber angariado durante as atividades na Cinemateca, que o repórter que até então só escrevia matérias sobre atividades econômicas, inaugurações e fatos políticos receberá o encargo de cobrir o Festival de Mar del Plata de 1962, logo após ter estreado nos assuntos de cinema do Estadão acompanhando duas atrizes que visitavam o Brasil – Alida Valli e Rita Hayworth. Até dezembro de 1963, Vlado colaborará nesse jornal com dezoito artigos sobre cinema, além de publicar uma intervenção avulsa no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, onde comparará a produção cinematográfica paulista e carioca, evidenciando a sua familiaridade e circulação entre esses dois importantes círculos geograficamente separados. Nesse pouco mais de um ano e meio, Vladimir Herzog molda-se como crítico de cinema, apurando seu texto e dando forma e expressão às suas principais ideias.
Também por meio do vínculo com a Cinemateca, duas das grandes oportunidades para efetivamente trabalhar na realização de filmes surgem na vida de Vlado. Primeiro, no curso de Arne Sucksdorff, no final de 1962. Maurice Capovilla afirma que, do grupo da Cinemateca, Vlado era o único com disponibilidade para ir ao Rio de Janeiro, tendo Paulo Emílio Salles Gomes obtido uma bolsa para viabilizar essa inscrição [Entrevista CPDOC]. Vladimir Herzog funcionou, nessa ocasião, como um emissário encarregado de conhecer e trazer de volta os mais novos métodos de produção fílmica (sobretudo a técnica do som direto), e não por acaso as notas que tomou (e também as de Lucila Ribeiro Bernardet, que esteve igualmente nas aulas) foram transcritas e preservadas para consulta. A experiência ainda teve um resultado mais decisivo: Marimbás, o único curta metragem dirigido por Vlado.
Pouco depois, em 1963, é ainda como fruto do ambiente e das ações da Cinemateca, que Vlado e Capovilla seguem para Santa Fé, na Argentina, com o fito de estagiar com Fernando Birri – outra experiência que vai afinar os parâmetros cinematográficos não só de Vladimir Herzog, mas de toda uma geração de diretores do cinema brasileiro. Ao retornar da Argentina, Vlado passará a integrar um novo time de realizadores reunidos em volta de Thomaz Farkas. Este, segundo Maurice Capovilla, em entrevista cedida ao CPDOC, comprara a câmera Nagra que Arne Sucksdorff trouxera da Europa. Tal grupo, que inclui também nomes como Geraldo Sarno, Sérgio Muniz, Paulo Gil Soares, Manuel Horácio Gimenez, é incumbido da produção de quatro filmes que comporão o longa-metragem Brasil verdade – Memórias do cangaço, Subterrâneos do futebol, Nossa escola de samba e Viramundo. Nesse projeto, Vladimir Herzog terá participação direta em Subterrâneos do futebol, como chefe de produção, e em Viramundo, como um dos responsáveis pelo som direto, juntamente com Sérgio Muniz, Edgardo Pallero e Maurice Capovilla.
A temporada londrina e o trabalho na BBC não arrefecem o entusiasmo de Vlado pelo cinema. Pelo contrário, ele parte do Brasil imbuído da missão de divulgar o cinema brasileiro no exterior. Na Europa, não só se empenha permanentemente em fazer contato com profissionais locais (Cinemateca Britânica, Peter Watkins etc.), como acompanha atentamente os últimos lançamentos cinematográficos, viaja a festivais (como o de Florença, de 1966, em que apresenta, com Sérgio Muniz, conferência sobre o cinema documentário brasileiro, ou o de Manheim, onde, depois de muitas negociações e persistência, faz exibir Viramundo, de Geraldo Sarno), idealiza planos de filmes e livros, e envia matérias para a revista Visão nas quais mantém acesa a prática crítica inaugurada em O Estado de S. Paulo.
Do regresso ao Brasil até a sua morte (1969-1975), entre os trabalhos na J. Walter Thompson, na revista Visão e na TV Cultura, as intervenções e projetos cinematográficos de Vladimir Herzog migram para uma espécie de segundo plano e não geram resultados finais tangíveis, o que não significa que ele tenha deixado de se importar com e/ou de viver cinema. Não será errôneo conjeturar que muitos artigos sobre cinema escritos na Visão sob o seu comando editorial tenham tido a sua redação ou influência, e que os programas jornalísticos do Hora da Notícia tragam características do cinema documentário que defendia. Além disso, testemunhos e documentos denunciam os filmes que tencionava desenvolver: um sobre Antônio Conselheiro e Canudos, para o qual visitou a região e tirou dezenas de fotografias; e a escrita da primeira versão do roteiro de Doramundo, a pedido de João Batista de Andrade.
Uma existência cheia de desvios e demandas (inclusive a de subsistência) e interesses multifários, brutalmente interrompida aos 38 anos, não pôde fazer vingar plenamente o potencial de homem de cinema em Vladimir Herzog. Isso não quer dizer, todavia, que devamos esquecer ou negligenciar a sua contribuição na área. Os filmes, artigos, projetos, diálogos epistolares e depoimentos presentes no Acervo Vladimir Herzog estão aí para restabelecer a posição de Vlado como um dos principais nomes do cenário cinematográfico brasileiro das décadas de 1960 e 1970.
Artigo: "Por um cinema crítico. As experiências de cinema de Vlado Herzog", por Naara Fontinele
Do caderno do Vlado
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 2 maio 1963
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 8 maio 1963
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 9 maio 1963
Carta de Maurice Capovilla e Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 24 jul. 1963
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 5 jan. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 23 abr. 1965
Carta de Sergio Lima para Vladimir Herzog, 3 jun. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet e Lucila Ribeiro Bernardet, 7 ago. 1965
Superman n. 81: "Bombeiros às avessas" (Money to Burn), s.d.
Programação do curso "Cinema, escola e cultura", s.d.
Programação do curso "Cinema, escola e cultura", s.d.
Ata de reunião de 16 jun. 1963
"Gilda" sambou no Portela e falou sobre Orson Welles
Conversa com Alida Valli
Fitas irregulares do Japão e da Hungria
O mundo infantil em duas fitas européias
Interesse pelo cinema brasileiro
Termina o festival de Mar del Plata; vence fita italiana
Truffaut: "Não há cinema sem poesia e poesia sem moral"
Possibilidades e limites do novo cinema da Argentina
Documentarista da Holanda fala de seu processo de criação
A última fita de François Truffaut
Para o atual cinema da União Soviética o exemplo é Dovjenko
Mar del Plata: do meio-dia às seis da manhã
Paul Newmann e a arte dramática
Renovação do cinema propõe o grupo da "Escola de Nova York"
Atrizes: a nova geração argentina
Diálogo com os russos: Tcherkassov
Stanislawski repensado: Batalov
Uma questão de fome
Birri de Santa Fé
Linhas retas & tortas
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 8 maio 1963
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 9 maio 1963
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 5 jan. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet e Lucila Ribeiro Bernardet, 7 ago. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 31 out. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsànyi, 7 jan. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 5 jul. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 3 out. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 25 out. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Sergio Muniz, 10 nov. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 28 nov. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 9 dez. 1967
Entrevista com Vladimir Herzog
Visão, 7/10/1966, v. 29, n. 15
Visão, 12/5/1967, v. 30, n. 17
[Maurice Capovilla, Fernando Birri e Vladimir Herzog em Santa Fé]
Carta de Maurice Capovilla e Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 24 jul. 1963
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 9 maio 1963
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 5 jul. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 3 out. 1966
Pelo relógio eu pela barriga
Superman n. 81: "Bombeiros às avessas" (Money to Burn), s.d.
Poluição
[Vladimir Herzog e Thomaz Farkas em filmagem de 'Subterrâneos de futebol', 1964]
[Açude Cocorobó e árvore]
[Açude Cocorobó e casa]
[Açude Cocorobó e casas]
[Açude Cocorobó e casas] (2)
[Açude Cocorobó]
[Açude Cocorobó]
[Açude Cocorobó] (10)
[Açude Cocorobó] (11)
[Açude Cocorobó] (12)
[Açude Cocorobó] (13)
[Açude Cocorobó] (14)
[Açude Cocorobó] (15)
[Açude Cocorobó] (16)
[Açude Cocorobó] (17)
[Açude Cocorobó] (18)
[Açude Cocorobó] (19)
[Açude Cocorobó] (2)
[Açude Cocorobó] (20)
[Açude Cocorobó] (21)
[Açude Cocorobó] (22)
[Açude Cocorobó] (3)
[Açude Cocorobó] (4)
[Açude Cocorobó] (5)
[Açude Cocorobó] (6)
[Açude Cocorobó] (7)
[Açude Cocorobó] (8)
[Açude Cocorobó] (9)
[Altar dentro de igreja]
[Altar dentro de igreja] (2)
[Altar]
[Altar] (2)
[Altar] (3)
[Bar Nova Canudos]
[Bar Nova Canudos] (2)
[Busto do Marechal Bittencout]
[Cacto em flor]
[Cacto]
[Cacto] (2)
[Cacto] (3)
[Cacto] (4)
[Cactos]
[Caminhão e casa]
[Caminhão e casas]
[Caminhão e casas] (2)
[Caminhão e casas] (3)
[Caminho para o Santuário de Santa Cruz]
[Caminhões e casas]
[Capela do caminho para o Santuário de Santa Cruz]
[Carro e casas]
[Casa e açude Cocorobó]
[Casa e crianças]
[Casa e paisagem agreste]
[Casas e horizonte]
Il documentario sociale brasiliano: sue origini e sue tendenze
[Vladimir Herzog passando por catraca]
Vai a Mar del Plata
Carta de Edoardo Speranza para Vladimir Herzog, 23 jul. 1963
Carta de Vladimir Herzog para Sergio Muniz e Amazonas Alves Lima, 21 set. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Sergio Muniz e Geraldo Sarno, 22 out. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 25 out. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Sergio Muniz, 10 nov. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 28 nov. 1966
Do caderno do Vlado
Marimbás, 1963
Roteiro do filme 'Marimbás'
Respostas de Vladimir Herzog para prova do curso de Arne Sucksdorff
Atestado de conclusão do Seminário Arne Sucksdorff, 1963
Currículo de Vladimir Herzog
Carta de Ariel [Alfredo Ariel Carró] para Vladimir Herzog, 11 out. 1962
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 10 nov. 1964
Carta de Vladimir Herzog para Fernando Henrique Cardoso, 19 maio 1965
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, [jun. 1965]
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet e Lucila Ribeiro Bernardet, 7 ago. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 3 set. 1965
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsànyi, 7 jan. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 3 out. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Sergio Muniz, 27 nov. 1966
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 7 dez. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 9 dez. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 1 maio 1968
Dedicatória de Clarice e Vladimir Herzog para Geraldo Sarno em página do livro Archaeoloy of Cinema
[Registro de Paraty durante a filmagem "Azyllo Muito Louco"]
[Maurice Capovilla, Fernando Peixoto e Vladimir Herzog]
[Vladimir Herzog com os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Walter Lima Jr.]
[Vladimir Herzog conversa com Fernando Birri]
[Paulo Emílio Salles Gomes e Lygia Fagundes Telles ao lado do túmulo de Karl Marx]
[Vladimir e Clarice Herzog assistem a debate sobre cinema]
[Cenas da filmagem "Azyllo muito louco"] (9)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (1)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco" em Paraty](4)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (10)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (11)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (12)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (2)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (3)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (6)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (7)
[Cenas da filmagem do "Azyllo muito louco"] (8)
[Cenas da gravação do filme "Azyllo muito louco"] (5)
[Cenas da gravação do filme "Azyllo muito louco"] (6.)
[Registro de Igreja de Paraty durante as filmagens "Azyllo muito louco"]