Estágio na Escola de Santa Fé

A sequência cronológica parece ser mais ou menos esta: Rudá de Andrade e Fernando Birri frequentam juntos o Centro Sperimentale di Cinematografia, entre 1951 e 1952; Vladimir Herzog conhece Birri no festival de Mar del Plata, em 1962; no início de 1963, Birri é convidado a vir a São Paulo para ministrar conferências e exibir seus filmes Tire dié e Los inundados; em 16 de março, Herzog publica no Estado de S. Paulo "Birri de Santa Fé", matéria em que faz apologia do cinema praticado pelo cineasta argentino e do método de ensino e produção cinematográfica do Instituto de Cinematografia da Universidade do Litoral, em Santa Fé, na Argentina, centro de ensino que Fernando Birri coordena. Ao fim, encantados com os filmes e desejando aprender mais sobre cinema documentário, Maurice Capovilla e Vladimir Herzog seguem para Santa Fé para um estágio de três meses....

A sequência cronológica parece ser mais ou menos esta: Rudá de Andrade e Fernando Birri frequentam juntos o Centro Sperimentale di Cinematografia, entre 1951 e 1952; Vladimir Herzog conhece Birri no festival de Mar del Plata, em 1962; no início de 1963, Birri é convidado a vir a São Paulo para ministrar conferências e exibir seus filmes Tire dié e Los inundados; em 16 de março, Herzog publica no Estado de S. Paulo "Birri de Santa Fé", matéria em que faz apologia do cinema praticado pelo cineasta argentino e do método de ensino e produção cinematográfica do Instituto de Cinematografia da Universidade do Litoral, em Santa Fé, na Argentina, centro de ensino que Fernando Birri coordena. Ao fim, encantados com os filmes e desejando aprender mais sobre cinema documentário, Maurice Capovilla e Vladimir Herzog seguem para Santa Fé para um estágio de três meses.

Alguns dados  palpáveis da viagem de Capovilla e Herzog para Santa Fé podem ser encontrados numa carta escrita pelo primeiro e subscrita pelo último a Jean-Claude Bernardet, de 24 de julho de 1963:

Chegamos a (sic) 4 dias, e não tomamos contato com muita coisa. Vimos por enquanto aulas de 'Integração cultural' dada (sic) por Hugo Gola, um grande sujeito, e vimos aulas de Estética e Crítica Cinematográfica por Saer, outro jovem de boa cultura e vivacidade. Estamos agora tomando contato com os 'fotos documentários' (sic), e vimos agora pouco 'Tire Dié', na versão original de 55 minutos (...). Enfim, vou voltar a escrever-lhe nos próximos dias.

Com exceção dessas poucas linhas escritas no princípio da experiência, pouco de mais concreto está disponível sobre as atividades e impressões sobre esse "estágio". É ainda Maurice Capovilla que recorda, mais tarde, de maneira geral e panorâmica, outros aspectos da jornada:

Para lá partimos em meados de 1963, durante um inverno rigorosíssimo. Foi uma viagem louca, de ônibus e barco, via Montevidéu. Passamos alguns dias na casa do Birri em Buenos Aires, fazendo uma imersão em curtas latino-americanos. Em Santa Fé, a escola ocupava um galpão no campus da Universidade Nacional del Litoral. Espaço de aulas, oficina e centro de produção se combinavam ali dentro. (...) Durante quase três meses, observamos atentamente as atividades da escola. (...) Seguia os grupos de alunos no vai-e-vem diário entre o campus e as áreas residenciais pobres, fotografando seguidamente até amadurecer a proposta do filme. Uma experiência fascinante”. (ver Maurice Capovilla: a imagem crítica, de Carlos Alberto Mattos, p. 57-58)

Embora falte o testemunho direto de Vladimir Herzog sobre o impacto dessa experiência – que não deve ter sido diminuto –, sobra desse episódio, evidenciado em diversos fatos, talvez algo tão ou mais importante quanto o aprendizado sobre cinema: a amizade genuína que se estabelece entre Birri e Vlado. Quando foge da Argentina, no mesmo ano de 1963, é Herzog quem o recebe no Brasil e lhe oferece a própria casa como hospedagem (ver Vlado e Birri: encontros). Nas cartas, o nome do realizador de Tire dié aparece com frequência; quando firma residência em Londres, a partir de 1965, há notícias de contatos telefônicos e de mais de uma viagem de Vladimir Herzog à casa de Fernando Birri em Roma, onde o cineasta terminou por se exilar (uma delas, inclusive, às vésperas da volta de Herzog para o Brasil). Essa relação prolongada e terna será sempre lembrada por Fernando Birri em entrevistas e depoimentos, fazendo lembrar que nas atividades profissionais em que nos envolvemos não pode faltar a empatia e o aspecto humano.


MATTOS, Carlos Alberto. Maurice Capovilla: a imagem crítica. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.


Cartas (2)

1
Carta de Maurice Capovilla e Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 24 jul. 1963

Carta de Maurice Capovilla e Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 24 jul. 1963

2
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967

Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967


Fotografias (1)

1
[Maurice Capovilla, Fernando Birri e  Vladimir Herzog em Santa Fé]

[Maurice Capovilla, Fernando Birri e Vladimir Herzog em Santa Fé]