Vladimir Herzog trabalha no Serviço Brasileiro da Rádio BBC de Londres entre 1965 e 1968, mas, pelo menos um ano antes do encerramento de seu contrato, está determinado a matricular-se num curso de Produção Televisiva promovido pela própria BBC. Um conjunto de cartas desvela os bastidores dessa inscrição não desprovida de dificuldades e artifícios burocráticos....
Vladimir Herzog trabalha no Serviço Brasileiro da Rádio BBC de Londres entre 1965 e 1968, mas, pelo menos um ano antes do encerramento de seu contrato, está determinado a matricular-se num curso de Produção Televisiva promovido pela própria BBC. Um conjunto de cartas desvela os bastidores dessa inscrição não desprovida de dificuldades e artifícios burocráticos.
“Eu estou vendo agora se consigo fazer um bom curso de televisão aqui. A BBC tem um, de seis meses de duração, só que custa a bagatela de quase mil libras. Sairia de graça se eu fosse recomendado por alguma instituição oficial ou educacional”, diz Herzog em carta a Tamás Szmrecsányi, de 7 de abril de 1967. Tem início então um périplo para Vladimir Herzog, na sua tentativa de encontrar entidade ou pessoa no Brasil disposta a abrir-lhe as portas do curso televisivo. O requisito principal é este: a instituição a pleitear a bolsa deve atestar que o beneficiário já trabalha ou que será contratado para trabalhar com TV.
Vlado recorre a diferentes amigos e personalidades ligadas à televisão: Tamás deve contatar o professor Chicralla Haidar, do Centro Audiovisual do Centro Regional de Pesquisas Educacionais; Samuel Pfromm Netto é abordado por Tamás e também por Thomaz Farkas; Paulo Emílio Salles Gomes é solicitado a interagir com Julio Garcia Morejón (que já havia enviado uma primeira carta não válida) ou mesmo, novamente, com Samuel Pfromm Netto. As recomendações afluem, mas não nos termos exigidos: ora o nome de Vladimir Herzog vem grafado incorretamente; ora as cartas são enviadas para o endereço equivocado; ora existe confusão sobre a data de início do curso; e, mais importante, nenhuma delas atesta claramente que Herzog estará empregado após o final do treinamento. O final da história é feliz: a TV Cultura de São Paulo se faz fiadora, “oferecendo-se a pagar parte do curso” (ver carta a Tamás Szmrecsányi, de 21 de março de 1968), e, entre julho e novembro de 1968, Vlado frequenta o curso da BBC.
As biografias de Vladimir Herzog chamam atenção para o fato de que a mesma TV Cultura que o ajudou a ingressar no curso da BBC recusou-se a lhe dar trabalho quando da sua volta ao Brasil, em janeiro de 1969. O revés foi temporário, contudo. A experiência e a preparação londrina fizeram de Herzog um profissional verdadeiramente apto para migrar do jornalismo impresso para o audiovisual: depois de uma passagem relâmpago pela TV Universitária da UFPE, Vlado finalmente aporta, em 1973, na Fundação Padre Anchieta, onde trabalhará primeiro como secretário de redação do jornal Hora da Notícia , e, mais tarde, no ano de sua morte, como diretor de jornalismo.
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 7 abr. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 17 ago. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 23 out. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Paulo Emílio Salles Gomes, 26 nov. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 1 dez. 1967
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 21 mar. 1968
Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 1 maio 1968
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsanyi, maio 1968
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsányi, 19 jul. 1968
Carta de Vladimir Herzog para Tamás Szmrecsànyi, 7 nov. 1968
Certificado de conclusão do curso de Produção Televisiva na BBC, 1968
Brasileiro aprende técnicas de TV educativa em Londres
Currículo de Vladimir Herzog