O relato mais completo que temos da infância de Vladimir Herzog está documentado no livro de Trudi Landau – Vlado Herzog: o que faltava contar (1986). A autora, tendo estabelecido amizade com Zora Herzog, mãe de Vlado, logrou traduzir e publicar uma carta escrita por Zigmund Herzog em 1968 – e dirigida ao filho –, em que conta os apuros vividos em Banja Luka em 1941, quando da invasão nazista, e a posterior fuga para a Itália. Os fatos não contemplados nessa carta inacabada foram acrescidos pela própria Zora numa narração que se estende até o ano em que Vlado e Clarice voltam de Londres, no início de 1969.
Não se pretende aqui, portanto, repetir ou resumir aqui os fatos terríveis nem algumas anedotas dessa fase da vida de Vladimir Herzog, muitos deles tingidos pelo desalento da memória de tempos difíceis ou pela afetividade melancólica de uma mãe que perdeu um filho. Além disso, muitos desses eventos foram também recontados por outros biógrafos, como Paulo Markun e Audálio Dantas. Nosso propósito é contextualizar minimamente os documentos do Acervo Vladimir Herzog que ilustram o período da sua infância e adolescência, primeiro na Europa, e depois no Brasil.
A título de esquema, elencam-se os principais episódios: nasce em Osijek, Iugoslávia, em 27 de junho de 1937; vive até os cinco anos em Banja Luka, cidade de residência dos pais; em 1º de agosto de 1941, abandona essa localidade com a família, rumo a áreas afastadas da influência alemã; a temporada em Fonzaso, na Itália, dura até quase o fim de 1943; de lá, a família migra para Fermo e, em seguida, para Magliano di Tenna; quando da chegada dos aliados, sofrem a transferência para um campo de refugiados em Bari; por último, em fins de 1946, deixam a Europa pelo Brasil, aportando em 24 de dezembro e estabelecendo-se em São Paulo.
Os documentos que atestam a vida de Vladimir Herzog nesse intervalo de tempo são, na sua quase totalidade, fotografias, e dizem menos dos percalços enfrentados do que perenizam momentos de alguma alegria e afeto. A carta manuscrita em servo-croata de Zigmund Herzog também pode ser vista e lida no acervo que estamos disponibilizando, e o restante da história se conhece pelas palavras de Zora, registradas por Trudi Landau. Uma folha extraída de um periódico judaico mostra Vlado, aos dez anos, enturmado entre um grupo de crianças e servindo como exemplo de uma vida salva da guerra. De resto, os demais documentos, em número reduzido, testemunham os feitos escolares de Vlado, e podem ser visualizados entre os papéis da seção Formação.
DANTAS, Audálio. As duas guerras de Vlado Herzog: da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, [2012] 2014.
LANDAU, Trudi. Vlado Herzog: o que faltava contar. Petrópolis: Vozes, 1986.
MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: A história de Vladimir Herzog e o sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
