Acervo Vladimir Herzog
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    Talvez seja admissível postular que a base da formação cinematográfica de Vladimir Herzog se deu por meio do contato assíduo e regular com os próprios filmes, em salas de exibição, desde a juventude, e, mais tarde, pela convivência com profissionais e aficionados, na Cinemateca Brasileira e espaços adjacentes ligados às atividades dessa instituição. Nesse sentido, Herzog seria um autodidata, pelo menos até novembro de 1962, quando é escalado para participar do Seminário Arne Sucksdorff, no Rio de Janeiro.

    Arne Sucksdorff era um cineasta sueco que, até a década de 1960, tinha angariado alguns sucessos e respeito internacional, sobretudo devido ao Oscar pelo curta-metragem Ritmos da cidade, em 1948, e aos prêmios nos festivais de Cannes e Berlim, em 1953, com A grande aventura (ver artigo de Eduardo Escorel, "Vladimir Herzog: uma decisão consciente", p. 36). O curso de cinema que recebeu a missão de ministrar nasceu de um projeto conjunto entre a Unesco e o Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, idealizado, segundo especula Eduardo Escorel, como pretexto para a importação e incorporação de equipamentos modernos de filmagem (ver artigo de Eduardo Escorel, "Missão Sucksdorff: o que poderia ter sido").

    De acordo com o depoimento de Escorel, Vladimir Herzog apresenta-se ao curso alguns dias depois de seu início, mas mostra-se logo “mais preparado do que muitos de nós”, além de ser "compenetrado e sério" num ambiente "informal e descontraído" (ver artigo de Eduardo Escorel, "Vladimir Herzog: uma decisão consciente", p. 36). Vale assinalar que Herzog foi ao Rio de Janeiro acompanhado de outro membro ligado à Cinemateca Brasileira, Lucila Ribeiro, futura esposa de Jean-Claude Bernardet. A primeira parte do curso foi dedicada à exibição e análise de filmes, atividades que podem ser entrevistas nas notas tomadas por Vlado na transcrição que foi posteriormente realizada de seu caderno. Em seguida, no início de dezembro, uma prova serviu para selecionar os alunos que passariam para a fase seguinte do curso; o exame de Vladimir Herzog, originalmente preservado na Cinemateca Brasileira, pode ser visto aqui.

    Aprovado no processo seletivo, e, aparentemente, mais capacitado que o restante dos assistentes, Vladimir Herzog escreve, com a colaboração de Lucila e Shauli Isaac, o roteiro de Marimbás, argumento que é escolhido para ser filmado como exercício de prática cinematográfica. Herzog traz, portanto, como fruto desse curso formativo, não só uma experiência de direção como também seu único documentário efetivamente consumado. 

    Assim, a participação no Seminário Arne Sucksdorff, atestada pelo certificado de conclusão, e o estágio com Fernando Birri, realizado junto com Maurice Capovilla em Santa Fé, na Argentina, completam a formação de Vladimir Herzog na área de Cinema. A partir de então, seguir-se-á o trabalho prático junto a Thomaz Farkas, Maurice Capovilla, Geraldo Sarno e outros. Produzido na conclusão do Seminário, Marimbás configura dramaticamente a realidade de homens marcados pela necessidade, que dependem do acaso para matar a fome. Sobressai seu cunho documental e sociológico, alinhado às questões que motivam a produção jornalística e depois televisiva de Vlado.


    ESCOREL, Eduardo. Vladimir Herzog: uma decisão consciente. In: Ocupação Vladimir Herzog. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.

    ESCOREL, Eduardo. Missão Sucksdorff: o que poderia ter sido. Piauí, São Paulo, out. 2012. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/missao-sucksdorff-o-que-poderia-ter-sido/. Acesso em 21 mar. 2020.

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