Acervo Vladimir Herzog
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    Na dupla condição de jornalista e de homem ligado ao cinema, Vladimir Herzog esteve em algumas oportunidades direta ou indiretamente envolvido em festivais cinematográficos.

    Cronologicamente, o primeiro foi decerto o Festival de Cinema de Mar del Plata, de 1962, para onde Vlado se dirigiu como repórter de O Estado de S. Paulo. Entre 29 de março e 3 de abril, Vladimir Herzog oferece às páginas do jornal relatos sobre os acontecimentos que presencia e críticas sobre filmes exibidos. A sua contribuição, todavia, prolonga-se para os dias posteriores ao festival, numa série de matérias que versam sobre personalidades que frequentaram o evento (Truffaut, Paul Newman etc.) e tendências do cinema brasileiro e internacional. Num desses artigos, “Mar del Plata: do meio-dia às seis da manhã”, estampado no “Suplemento Feminino”, seu texto abandona a exposição factual e objetiva e assume tonalidade cronística e paródica, ao se colocar a si mesmo e outras celebridades em situações e cenários extravagantes e surreais que almejam despertar efeitos cômicos.

    Em 1963, logo após finalizar Marimbás, Vladimir Herzog é convidado a inscrever o curta-metragem no Festival dei Popoli de 1964. A carta-convite enviada por Edoardo Speranza menciona a intermediação de Jean-Claude Bernardet. Ao que tudo indica, entretanto, o filme não foi submetido ao júri do concurso.

    Uma vez na Europa, a participação mais célebre de Vlado num festival foi aquela que deu origem à conferência ministrada em parceria com Sérgio Muniz no XII Colloquio Internazionale Sul Film Etnografico e Sociologico, no Festival dei Popoli de 1966, em Florença. A versão em italiano dessa conferência sobreviveu aos nossos dias no Acervo Pessoal Alex Viany (Cinemateca do MAM-RJ), e é intitulada “Il documentario sociale brasiliano: sue origini e sue tendenze”. Nela, Vladimir Herzog e Sérgio Muniz sumarizam a história das iniciativas de um cinema documentário brasileiro, assinalando as principais realizações, bem como os problemas que cercavam a evolução dessa prática no Brasil.

    Por fim, um episódio provavelmente desconhecido (ou nunca mencionado) da trajetória cinematográfica herzoguiana é, ao mesmo tempo, um dos mais instigantes e reveladores dos esforços de Vlado dirigidos à promoção do cinema brasileiro no exterior: sua presença no Festival Internacional Mannheim-Heidelberg de 1966. Ainda em decorrência dos vínculos com os cineastas reunidos em torno de Thomaz Farkas (grupo que produzirá a série Brasil Verdade, na qual Vlado terá envolvimento direto em dois filmes, Subterrâneos do futebol e Viramundo), Vladimir Herzog é convidado a colaborar para a exibição de Viramundo no festival, traduzindo-o para o inglês. Em carta a Sérgio Muniz e Geraldo Sarno, de 22 de outubro de 1966, Vlado conta detalhadamente os incidentes e peripécias que enfrentou durante o evento, que qualifica espirituosamente de “malfadada viagem”. Primeiro, a fita de Viramundo não chega a tempo para o concurso. Mesmo assim, Vlado se empenha ao máximo junto à organização do festival para encaixar a exibição do filme na programação. Obtém um horário não vantajoso, mas aceita e passa a divulgá-lo para o público. Descobre, no dia seguinte, que a agenda foi alterada, e é obrigado a nova corrida para informar as pessoas da mudança de horário. Após exibição para “mais de vinte pessoas” (o que considera uma vitória), ainda consegue conquistar uma segunda apresentação de Viramundo na programação normal para uma plateia de número superior a cem pessoas, que “aplaudiram no final”.

    A aventura do Festival do Mannheim, tal como deliciosamente narrada na carta, traduz de forma concentrada a personalidade e as opiniões de Vladimir Herzog. Estão lá a crueza de seus juízos críticos (manifestados em esfera privada, naturalmente) e esse misto de dedicação à causa do cinema brasileiro e persistência obstinada em realizar aquilo a que se propôs, sobretudo quando, no íntimo, cultiva o sentimento genuíno de estar cumprindo uma missão justa.

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