A viagem de 31 dias que Vladimir e Clarice Herzog fizeram pela Europa, em maio de 1967, tal como relatada numa carta enviada aos pais de Vlado, em junho de 1967, e registrada nas quase duas centenas de fotografias tomadas durante o percurso, foi provavelmente a maior aventura do casal em terras europeias: um roteiro feito todo de carro, com Clarice ao volante.
O início da jornada se dá em 14 de maio de 1967, atravessando o Canal da Mancha. De Calais, passam à Bélgica, visitando Bruges, Gante e Bruxelas; daí, deslocam-se para Colônia, na Alemanha, onde “Vlado comprou, afinal, uma máquina fotográfica” (ver a carta enviada para os pais), momento em que as fotografias legadas podem começar a surgir. Voltam, então, para oeste, parando em Aix-la-Chapelle e se dirigindo, via Paris (e, antes disso, possivelmente, via Reims e Soissons) e Dijon, para a Itália, não sem antes entrar pela Suíça (Genebra) e aproveitar a paisagem invernal de Chamonix-Mont Blanc.
Na Itália, etapa da excursão mais rica em imagens de lugares turísticos, Vladimir Herzog e esposa movem-se nesta sequência: Turim, Gênova, Rapallo, Pisa, Florença, Siena e Roma (nesta cidade, hospedam-se na casa de Fernando Birri). Então, cruzam o país na direção do litoral oposto, justamente a região onde a família Herzog se refugiou durante a Segunda Guerra Mundial. Passam por Fermo e chegam a Magliano di Tenna. Aí, Vladimir Herzog encontra Emma e o filho, Giannicola, antigos conhecidos do tempo de exílio. Sobem em seguida para o norte, conhecem Loreto e, em Pesaro, topam novamente com Birri e assistem a Terra em transe, de Glauber Rocha. O objetivo, agora, é ir à Iugoslávia e rever os locais onde viveram os pais e familiares de Herzog. Mas, antes de saírem da Itália, visitam Ravena e Veneza.
Na Iugoslávia, já em junho, os viajantes dormem em Liubliana para enfim alcançarem Banja Luka, cidade onde ficava a residência dos Herzog e onde Vlado passou a infância. Deparam com amigos de Zigmund Herzog e também com pobreza e recordações melancólicas dos que permaneceram. No país natal, o ponto mais distante que visitam é Osijek, local de nascimento de Vladimir Herzog. A carta aos pais se interrompe aí, mas as fotografias ainda sugerem, nessa viagem de retorno, passagens por Feltre e Fonzaso (duas outras localidades às quais os Herzog estiveram ligados durante a guerra) e Milão (embora não seja possível determinar categoricamente se essa visita se deu na ida ou na volta). Igualmente não citados na carta são os trânsitos pela Floresta Negra, na Alemanha, e Estrasburgo.
Assim, ler a carta enviada por Vlado aos pais, de junho de 1967, e passear pelas fotografias de sua viagem com Clarice pela Europa possibilitam conhecer melhor sua trajetória pessoal, atravessada pela história, feita de momentos dolorosos, alguma solidariedade e paisagens marcantes da natureza e da cultura.